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08jan 2015

meus escritos | de violão, de skate e de tudo que se quer

Postado por às em Inspiração, Meus escritos

detudoquesequerser

quando eu tinha 16 anos tive um namoradinho que tocava violão e me ensinou. foi um pouco antes da época em que uma das minhas melhores amigas (até hoje) me passou as manhas do skate e eu comprei um Mary Jane azul pra usar com minha calça baixa – coisa que aconteceu entre os tempos de grupo de jovem da igreja e do grupo de atletas do Xadrez na escola. pois é, eu já fiz de tudo.

mas embora o violão esteja encostado faz uns anos e hoje seja só de vez em quando arranhado, eu lembro de uma coisa engraçada da teoria da música que é a vibração de cordas. vou tentar explicar: quando a corda do violão vibra, por exemplo, em Lá, todas as cordas em Lá próximas dele vibram juntas em resposta. mesmo que você não as toque, elas vibram. eu nunca confirmei, mas quando me contaram isso eu cheguei a conclusão que é por isso que quando estamos bem pertinho da música em um certo volume o nosso corpo vibra junto. o som nos vibra. mas será que é só o som?

eu acho que não. eu acho que tudo que escolhemos meio que vibra conosco. dá pra ver bem isso quando a gente tá numa festa com pista vazia: precisa sempre alguém mais desinibido levantar primeiro e enfrentar o clarão ali no meio pra que seja rapidamente seguido. todo mundo tem dentro de si a vibração da dança, basta que alguém toque a corda e nós vamos lá. e ao mesmo tempo que podemos usar essa teoria pra produzir coisas lindas, podemos usar para fazer o mal.

lembra daquela música do Chico Buarque “a Geni e o Zepellin?”. que a cidade inteira se sentia bem jogando as ditas das pedras na pobre? todo mundo estava lá apedrejando porque… porque todo mundo apedrejava, ué. as pessoas em grupos sentem mesmo esse poder de fazer o bem ou o mal – na hora de jusitifcar dizem “mas todo mundo estava fazendo”. é como se perdessem a consciência entre o certo e o errado quando estão nesse transe dessa vibração compulsória.

a vibração também explica uma outra coisa que é uma parte da minha vida: as tendências. uns cinco anos atrás a tendência era ser pin up, todo mundo queria ser pin up. eu nunca fui pin up mesmo mas eu brinquei com batons vermelhos, poás e delineados gatinhos. aí passou, assim como passou o skate que eu disse lá no começo. mas como tudo com que eu brinco na vida, fica o lado bom: por exemplo, aprendi a gostar de mim e de me enfeitar, a ter coragem de usar batom colorido (que me faz bem pra caramba, me acho linda) e de delinear bem grosso – uso isso até hoje. agora eu ando meio riponga, ciganinha e tô adorando essa coisa de moda boho. amanhã deve mudar e eu não tenho nenhum compromisso em manter essa aparência. mas eu sei que algumas coisas que aprendi – como perder o medo da estampa e do penduricalho e entender o significado de uma mandala, vão ficar comigo pra sempre. conhecimento é coisa que não se perde – mesmo os mais fúteis e bobos.

é que por fora a gente pode até estar vibrando nas tendências, mas por dentro nunca mudamos quem escolhemos ser em essência. eu mesma, seja cheia de caveiras ao meu redor e sonhando em visitar Vegas ou de mochila nas costas e saia longa no Uruguai, nunca mudei o valor que dou ou não na minha família, nos amigos, em ajudar as pessoas e em aprender coisas novas. tá no meu sangue, não tem jeito.

não me entendam mal, eu não acho errado ser a mesma – a Mahara, minha cabeleireira, por exemplo, nasceu pra ser pin up com aquele rostinho e carinha de Marilyn. ela curte esse estilo faz anos e pode vir a moda hare krishna que ela vai continuar rodando a saia. acho bonito esse jeito de ser. só não acho que é pra mim viver o mesmo e o mesmo todos os dias. cada um no seu quadrado, eu nunca gostei tanto de algo que me fizesse me comprometer pela vida igual um casamento – sigo aqui brincando e achando legal quem já sossegou.

mas sabem o que eu acho errado? é o padrão de vibração que algumas pessoas escolhem. sabe aqueles reclamadores profissionais? vocês já viram o tipo de energia que eles atraem? abre o Facebook e confere, quantos status você lê por dia dizendo o que odeiam? “odeio meninas que usam flor na cabeça”, “odeio a moda de comer paletas mexicanas”, “acho quem gosta de Lana del Rey idiota” seguidos de comentários que começam com “eu também” até que tudo perde o controle e chegamos numas ofensas meio cabeludas e preconceituosos pra caramba. é a Geni no meio da praça e a pessoa escolhe tacar a primeira pedra sabe-se lá o porquê. quando vemos, o apedrejamento aconteceu. tá todo mundo vibrando sua corda desafinada de ódio e deselogios por causa de… uma coroa de flor. um apetrecho de fotografia da moda. um estilo de roupa ou foto no Instagram. tudo é motivo pra vibrar nessa energia.

ainda não entendi porque pessoas que gostam de experimentar que nem eu geram tanto ódio, mas hoje quando eu acordei percebi que decidi que não me importo e não vou vibrar essa corda. seja parando de seguir no Facebook, seja não saindo mais junto… eu tô um pouco cansada de tanta gente que escolhe despertar o pior no outro.

reclamação tem valor: se a gente não reclama na prefeitura, por exemplo, ninguém asfalta a rua ou recolhe o lixo. mas o que me traz reclamar da flor no cabelo da menina? de que fulana tá tirando foto do look do dia ou não? que cicraninha tirou foto com pau de selfie e o joãozinho comeu coxinha gourmet? o que me traz sair do terreno da piada e declarar ódio real a comportamentos que não mudam nada?

pra que tudo isso se a gente pode tocar uma música boa? vibrar junto na mesma e quando ver atrair só felicidade? olha só, vai ver é mais uma coisa que a fase riponga e uruguaia me trouxe… esse papo de energia e de escolher ser feliz. mas eu acho que essa vai ficar.

porque eu prefiro é botar minha coroa de flor, tirar uma foto com meu pau de selfie tomando pisco ou mate e depois fazer um elogio pra uma amiga pra dar coragem em todo mundo de provar flor, pisco, mate, tirar foto bonita e principalmente de elogiar a colega que tá linda mesmo. eu prefiro mudar a vibração da minha corda a força. e mesmo que me digam que não usar a mesma casca todos os dias seja coisa de gente que não é autêntica, ainda acho que o que nos é autêntico tá mais no coração que na roupa. e ainda que eu não esteja mais na moda da flor, da selfie e do saião amanhã, tem uma coisa que nada vai me tirar: o fato de que eu escolhi ser feliz e me cercar de coisa boa.

ah, claro que não sou santa. escorrego e falo mal às vezes, tem hora que acordo e passo o dia reclamando. mas tem uma coisa que eu sou muito consciente: se eu não escolher sair dessa, ninguém vai me tirar e, aliás, vai aparecer gente de todo lado pra me jogar mais pra baixo. lá embaixo é muito escuro. prefiro ficar na superfície. aliás, tem lugar pra você também: é só querer.

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